Monday, October 30, 2006

um pouco mais tarde

Deixou-se ir pelos reflexos do tejo, nas suas costas ondulavam as sombras serpentinas de uma metáfora para D. José e o arco da Augusta parecia já um espaço perdido. Via entre cada ondular do rio uma expressão de memória, o marulhar da água nas paredes de um cais de outros tempos era toque hipnótico de uma sinfonia que compreendera desde a infância.Não sentia o coração que pouco batia no corpo, nem estranhava a roupa com restos de almoço ou os ténis que entraram em comunhão com as lajes que pisavam. Não sentia, tudo nele parecia fruto de uma ataraxia ou de uma apostásia à sua condição humana.Deixou-se ir por tudo, deixou-se ir por nada, vivia o onirismo de só quem o vive o sabe e a noite passou-se, de olhos abertos e sons longíquos.

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