Thursday, October 12, 2006

Levantar

Levantou-se cedo, com o costumeiro pesar de mais um dia que vem e outro que passou, em frente ao espelho coçou os pelos ruivos e admirou o crescimento de quatro dias, tudo condizia, a profundidade de um olhar sem descanso, pele transparente e um certo carisma na sua sombra que nunca compreendeu bem.
Desfez a barba com precisão mecânica, deixando aqui e ali pequenas marcas que sempre descurou, no fim de contas o rosto era o retrato da alma. O duche veio como uma bênção, dir-se-ia que o Ganjes tinha adquirido a pureza de há mil anos e que pelas canalizações de Lisboa também nós depositavamos os nossos corpos putrefactos. Meia hora passou e a água continuava a percorrer o corpo, mais meia hora e uma mão inconscientemente fechou a torneira.
Preparava-se para vestir um fato e colocar ao de cima, a tom de perfume, a personalidade, fê-lo.
De pouco mais se poderia lembrar do seu dia-a-dia, no fim de contas era agora um novo homem.