Wednesday, October 25, 2006

de tarde

Era tarde mas ainda era dia, ou melhor, advinhava-se um sol por detrás do véu de nuvens que percorria todo o horizonte da esfera celeste. Coçou a barba que voltara a crescer, desde manhã, e entre os pequenos ruidos da sua respiração deixava-se ir num pensamento de procura. Procurava, procurava sabe-se lá o quê, ou melhor - quem!?
Possivelmente enredou na sua mente um divertimento a três tempos de uma analogia hindu, no fim de contas há sempre um prazer sardónico pelas coisas que desconhecemos e pelas vozes que ouvimos no espaço oco da nossa mente. Esboçou um sorriso pelo riso curto e infantil que escutou, algo de uma memória feminina que lhe inquinou toda a vida.
Ao lembrar esse riso notou o buraco que estava na sua camisa, era escuro, desfiado, um buraco que ia do peito às costas se por lá decidisse pôr a mão. Continuava a coçar a barba, agora um pouco maior que no tempo da primeira palavra, desligou-se da dor cardíaca e concentrou-se no aqui e agora, estava no metro, na estação errada e completamente atrasado para algo que ele sabia que devia fazer.

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