Friday, June 01, 2007

Dos outros

Disse um homem sábio - Fala muito das coisas, pouco de ti e nada dos outros.
E disse-o muito bem. Porque falamos sobre os outros? Porque tecemos considerações sobre o que fizeram se não sabemos as suas razões profundas. Principalmente, porque julgar os outros segundo os nossos medos ou frustrações? Fica-se bem melhor vivendo longe das conjecturas e comentários que nos perdermos em construcções que de tão pouco têm de real e apenas nos levam ao abismo interior.
Let us consider then the ones who would always sit in judgment of us. They question our faithfulness and motives. They doubt our worthiness. They seek to destory the good works we have done. We can refuse to follow these ways, and be very, very careful of how we review another’s path, or else we just might find ourselves walking beside them.
Os dias tornam-se mais bonitos sem esses fardos.

Thursday, May 31, 2007

Verdade


A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade

Wednesday, May 30, 2007

Reflexão

Lao Tsé disse, outrora, que a jornada de um quilómetro começa com um passo. A vida de um Homem começa com um choro e termina com um suspiro, no espaço entre os dois percorremos incontáveis segundos que nos parecem, umas vezes, intermináveis e noutras, céleres.
De facto temos a certeza de muito poucas coisas, ou praticamente nada, nem mesmo temos a certeza da mortalidade a não ser quando ela chega ou quando começamos a dar relevo à decaída do nosso corpo.
Do princípio ao fim, cumprimos as obrigações sociais mas há quem se sinta descontente, quem ache que o racional não explica tudo, muito menos o que se passa dentro de nós, há quem ache que a filosofia também não explica tudo, que a rotina e o desejo de querer não podem ser os objectivos de uma vida. Um dia o Homem confronta-se com ele próprio e aí começa a jornada, à descoberta de si.
Quem tem coragem de trilhar o caminho menos percorrido?
Onde começa o medo?
Que preconceitos existem?
Desmistificar e desconstruir o que aceitamos por certo, remover paredes, criar novas fundações, remexer na terra do nosso ser para o tornar mais fértil. Será que custa? Porquê?
Aceitando o desafio da vida, não basta viver.

Tuesday, May 29, 2007

Olá vizinhos

Hoje é dia europeu dos vizinhos, para a promoção da confraternização e pelo combate ao isolamento, por isso aqui fica:
Olá vizinhos!
(bem verbalizado na ocasião)

Monday, May 28, 2007

.

A um toque de carvão,
De palavra em riste,
chama que se apaga triste,
Num sonho de verão.

De norte, vento ufano,
Acorrentado em tons de mar,
Lápis perdido sem despertar,
De norte, vento em fogo insano.

Sunday, May 27, 2007

Paraíso

David foi um homem que percebia de mulheres. Percebia no sentido do que havia a perceber, traduzindo o que sentia numa construção de letras, ritmos e melodias. Sempre o admirei e muito prazer me deu ouvir alguns dos seus poemas em CD, não só pelas palavras mas pela emoção do próprio.
Da poesia parte um outro entendimento, uma visão de olhos fechados que se torna mais nítida mas também menos perceptível ou de entendimento fácil. As palavras acabam sempre por ficar quando tudo o resto já partiu. Fica aqui um "Paraíso"...

Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.

Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!

Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...

Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.
David Mourão-Ferreira

Pontes de vida

Do que queremos ao que temos há uma ponte feita de pilares que nem sempre são construidos por nós. Como uma ponte feita a partir de cada margem, todos os cálculos devem ser precisos para que as duas se encontrem no sítio certo, todos os materiais estruturantes devem ser resistentes e flexiveis para enfrentarem as mais diversas contrariedades.
Assim, se aceitamos pilares que não são nossos, devemos considerar até que ponto nos poderão ser benéficos e que testes de qualidade passam para que nos sintamos confiantes. Muitas são as pontes que tentamos constuir ao longo da vida e muitas são as que teremos que abandonar.
Ao querer algo terei que aceitar que algo nunca será meu, ao desejar algo terei que aceitar que o desejo é apenas ilusão. Se não escutar a minha fraqueza nunca a poderei transformar em fortaleza.
No fim, tudo é apenas um sonho que, dependendo da nossa necessidade dele, se torna um pesadelo. Felizmente há sempre uma manhã a seguir.

Le concile de pierre

Novamente a mongólia, acabo sempre por lá ir parar. Desta vez, sobre o filme "Le concile de Pierre", com Monica Bellucci, que aqui aparece mais como actriz que como mulher sex symbol, num papel que expõe a sua idade e valoriza os talentos da representação (também gostei muito de a ouvir falar russo). A história é fabulosa e melhor que ler é mesmo apreciar o filme e deixar ir nas asas da imaginação... diria mesmo, ujmerleku.