Friday, May 04, 2007

1506

A 19 de Abril de 1506, um cristão novo (judeu convertido) tentou, na igreja de São Domingos em Lisboa, explicar racionalmente um "milagre". A reacção popular foi espancá-lo até à morte. A partir daí, sob incitação dos dois frades dominicanos da igreja, começou um massacre que durou 3 dias e custou a vida a cerca de 4000 pessoas. Convém referir que dominicano vem de Domini Canis, cães de Deus (fundados por São Domingos de Gosmão) e, apesar de obedientes, nunca ficou provado que os cães reflectem as atitudes que tomam.
Assim começa mais um episódio negro da história dos Judeus, neste caso sefarditas, que culminou com a sua expulsão do território, pelas pressões da Igreja.
Com este caso podemos meditar sobre:
  • A ignorância da época, que por vezes, gravemente, ainda tem os seus ecos na actualidade;
  • A questão judaica, sempre um povo em diáspora, porquê (além das razões cristãs)?
  • A igreja de São Domingos, cujo adro serviu para queimar judeus, teve um violento incêndio em 1958 que a destruiu por completo no interior.
Bom e tudo isto também para dizer que foi lançado o livro sobre este fatídico acontecimento, que se chama "Lisboa - 19 de Abril de 1506. O Massacre dos Judeus", de Susana Bastos Mateus e Paulo Mendes Pinto, pela Alêtheia Editores.

Thursday, May 03, 2007

Pessoa 1934

Bem sei que estou endoidecendo.
Bem sei que falha em mim quem sou.
Sim, mas enquanto não me rendo,
Quero saber por onde vou.

Inda que vá para render-me
Ao que o Destino me faz ser,
Quero, um momento, aqui deter-me
E descansar a conhecer.

Há grandes lapsos de memória
Grandes paralelas perdidas,
E muita lenda e muita história
E muitas vidas, muitas vidas.

Tudo isso, agora me perco
De mim e vou a transviar,
Quero chamar a mim, e cerco
Meu ser de tudo relembrar.

Porque, se vou ser louco, quero
Ser louco com moral e siso.
Vou targer lira como Nero.
Mas o incêndio não é preciso.
Fernando Pessoa



Começo a ver alguns paralelos...

Qual é a música da tua vida?


Hoje em dia está em voga "qual é a música da tua vida"? Penso, penso, repenso, revejo os milhares de albuns que tenho, exploro afincadamente os vários estilos, os instrumentos e vozes predilectos, para chegar a uma conclusão. A música vive-se e faz parte da vida! Ultimamente tenho descoberto "Collide", "Amantine", "Margarida Pinto" e tenho adorado mas, para responder um pouco à pergunta, a música que mais tenho vivido ultimamente é "As Mãos" de António Pinho Vargas. E que dizer da composição? Sempre me fez sonhar.

Wednesday, May 02, 2007

Palavras sábias

“Nunca percas a fé na humanidade, pois ela é como um oceano. Só porque existem algumas gotas de água suja nele, não quer dizer que ele esteja sujo por completo.”

Mahatma Ghandi (1869-1945)

Tuesday, May 01, 2007

Ao medo, o que dizer

Não precisamos de ter medo do Medo, porque o Medo não tem medo de nós. Se a ele respondermos na linguagem que compreende então a sua persuação será maior. Se, pelo contrário, lhe respondermos com a linguagem que não compreende, então parará para aprender.
Para sabermos qual a linguagem a falar com o medo, basta sabermos que o amor e a integridade de nada têm medo.
O medo entra pela porta que abrirmos, tudo começa e acaba em nós. Quanto mais queremos mais medo temos, isto porque estamos no mundo do ensejo. Mas, se o que queremos não for de ter então não há porta porque não há casa e o medo não tem lugar.

Monday, April 30, 2007

Vega na nostalgia


(É a nostalgia, que se há-de fazer?)

Soneto VIII
de Garcilaso de la Vega

De aquella vista buena y excelente
salen espirtus vivos y encendidos,
y siendo por mis ojos recibidos,
me pasan hasta donde el mal se siente.

Entránse en el camino fácilmente,
con los míos, de tal calor movidos,
salen fuera de mí como perdidos,
llamados de aquel bien que está presente.

Ausente, en la memoria la imagino;
mis espirtus, pensando que la vían,
se mueven y se encienden sin medida;

mas no hallando fácil el camino,
que los suyos entrando derretían,
revientan por salir do no hay salida.

Vladimir Maiakovski

Poeta russo, dramaturgo, futurista.
Morreu ao sabor dos frutos da "revolução" de 1917, quando dela apenas se tinham passado 13 anos. Muito ficou por dizer mas a "bofetada ao gosto do público", obra futurista, ainda é uma referência viva.
Deixo aqui um pequeno poema que se aplica a tanto.

Na primeira noite, eles se aproximam
e colhem uma flor de nosso jardim. E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem,
pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles, entra
sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,
e, conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada,
já não podemos dizer nada.

Santa casa da gente

De além mar, recebi um poema que, para mim, tem tudo de bonito e verdadeiro. Santa gente que assim escreve.
É bom ter amigos onde a distância não importa.


Santa casa da gente

Santa é a casa da gente
Santa a sua entrada
Seus corredores de lembranças
Suas portas de história

Santa é a casa da gente
Manta de calor e sonho
Aconchego morno, e paz
Reduto que se refaz

Sagrado o retorno à casa
À casa da gente; o quarto
O farto de luz e calma
O canto, a mesa, a cama

Divina é a casa da gente
Redoma de vida nova
Esperança trazida de volta
Alívio, acalanto, ressurreição.

É santa, a casa da gente.

Caroline Gonçalves